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França: dados de satélites ajudam a prevenir e antecipar epidemias


Em Toulouse, no sul da França, o CNES (Centro Nacional de Pesquisas Espaciais) mantém um programa que analisa as relações entre o clima, o meio-ambiente e a saúde, com o objetivo de prevenir e antecipar epidemias, utilizando dados fornecidos por satélites de observação que transitam em diferentes órbitas. A RFI Brasil conversou com uma das responsáveis do estudo, Cécile Vignoble, sobre como a tecnologia espacial pode ser usada na luta contra diversas doenças, incluindo a Dengue, o Zika e outras patologias respiratórias, ligadas à poluição. Os satélites fornecem dados sobre o tipo de vegetação, temperatura, índices pluviométricos e umidade em uma região, que permitem antecipar o aparecimento de doenças em nível local. Isso graças a uma ferramenta conhecida como cartografia preditiva, que calcula, por exemplo, a quantidade de Aedes Aegypt, o mosquito transmissor da Dengue, existente na região. Na entrevista, a especialista francesa também fala sobre os projetos de expansão do programa na França e no exterior, inclusive no Brasil, onde o instituto francês tem uma parceria de longa data com o INPE (Instituto de Pesquisas Espaciais). RFI: Qual o objetivo desse programa e da utilização dos dados dos satélites? Cécile Vignolle: O que tentamos mostrar é a relação que existe entre a emergência e a propagação de certas doenças e as mudanças climáticas e ambientais, utilizando a tecnologia espacial e os satélites de observação da Terra. O que é recente no conceito estabelecido pelo CNES e seus parceiros é a colaboração direta com profissionais locais de saúde pública. A ideia é criar produtos espaciais que podem ser usados nesse tipo de monitoramento e na luta contra os vetores, como os mosquitos que provocam certas doenças. Queremos otimizar essas ações de luta e prevenção, para coloca-las em prática em seguida. Quais são os modelos de prevenção que podem ser criados a partir desses dados espaciais? Eles são de dois tipos. Podem ser mecânicos - um modelo que já usamos, por exemplo, na ilha da Reunião. A ideia agora é ver se podemos adaptar esse modelo a ecossistemas que são diferentes, como os das metrópoles. Três cidades “pilotos” foram escolhidas pela DGS (Direção Geral da Saúde, organismo francês com quem o CNES fechou recentemente um acordo): a região de Bordeaux, Montpellier, e Grenoble, onde o mosquito Aedes aegypti, que transmite a Dengue, está presente. Se o projeto funcionar, vamos adaptá-los às regiões ultramarinas, como Guiana, Martinica ou Guadalupe. Mas esse modelo não pode ser aplicado para todas as doenças. Neste caso, usamos o chamado modelo estatístico. Calculamos um certo número de variáveis, a partir dos dados dos satélites. A partir daí, vemos quais dados estão relacionados à presença de certos vetores. Quais são as principais doenças que podem ser combatidas com essa tecnologia? Nossos estudos abrangem a Dengue, o Paludismo e a febre do vale Rift, no leste da África. Também trabalhamos com produtos ligados à poluição atmosférica e a meningite, presente no Sahel, cuja disseminação está ligada a algumas partículas presentes na atmosfera. Tentamos detectá-las e construir o que chamamos de “indicador” de presença de poluição, para estabelecer essa relação com doenças. Também damos apoio a um estudo sobre as doenças respiratórias agudas provocadas por poluentes atmosféricos. Existe uma parceria com o Brasil, onde atualmente há uma epidemia de febre amarela e a Dengue é um problema de saúde pública? Atualmente, o CNES apoia uma equipe francesa que trabalha com o Brasil em doenças como a Dengue e o Zica. Eles tentam, justamente ver qual seriam os indicadores no meio-ambiente que poderiam estar ligados à emergência dessas doenças. Pesquisas estão sendo realizadas, e há parcerias entre o INPE (Instituto Nacional de pesquisas espaciais) e o IRD (Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento), cuja objetivo é justamente trabalhar com os países do sul. A colaboração com o Brasil é antiga. E um monitoramento para controlar a febre amarela, seria possível? A febre amarela continua sendo um problema saúde pública, mas como existe uma vacina, há uma solução. No caso das outras doenças, não há uma vacina, apenas tratamento dos sintomas e a prevenção. A ideia da autoridades de saúde pública é justamente alertar a população e os profissionais da saúde suficientemente cedo quando detectamos que há fatores favoráveis à emergência dos vetores que provocam a doença e e à emergência da própria doença. A presença dos mosquitos não indica necessariamente a existência da doença, mas é impossível ter a doença sem o mosquito.


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 March 6, 2018  5m