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Ciência - Competição cerrada na corrida à vacina contra a Covid-19


A Rússia anunciou, no sábado, que produziu o primeiro lote da vacina contra o novo coronavírus. A vacina Sputnik V foi anunciada dias antes pelo presidente Vladimir Putin, mas a comunidade científica internacional recebeu a notícia com cepticismo. A competição internacional na corrida à vacina contra a Covid-19 é cerrada e o anúncio de Putin foi simplesmente um "acto político", na opinião do médico Jaime Nina, que respondeu à RFI sobre questões que todos se colocam sobre um vírus que não dá tréguas e em que a esperança passa por uma vacina. As autoridades russas informaram, este sábado, que o país produziu o primeiro lote da vacina contra o novo coronavírus, anunciada na semana pelo presidente Vladimir Putin e que o resto do planeta recebeu com ceticismo. Alguns afirmaram que uma vacina desenvolvida de maneira precipitada pode ser perigosa, pois a fase 3, ou seja a fase final dos testes em que a sua eficácia é comprovada com milhares de voluntários, começou agora. O médico Jaime Nina recorda que a Rússia tem "uma enorme tradição na produção de vacinas" e que "oficializar a vacina foi uma decisão política" porque "há uma corrida cerrada e a Rússia quis afirmar que também está na corrida", ainda que a produção tenha começado antes da conclusão da fase 3. Algo que também já está a acontecer com as outras vacinas que estão a ser realizadas para combater o novo coronavírus, quer a de Oxford, quer a vacina chinesa em parceria com o Brasil, quer a vacina da Pfizer. "O anúncio russo é um acto político, os outros foram mais discretos. Pelo que se sabe, eu diria que não é a vacina que está mais avançada. Eu diria que há uma competição cerrada em qualquer das três - a Pfizer, a chinesa e brasileira, e a vacina de Oxford. Se eu tivesse que escolher alguma de como a mais avançada, eu diria que, por um cabelo, estaria a de Oxford. Mas tanto quanto se sabe estão todas muito próximas. A russa também já se sabia que estava bastante avançada e, no fundo, o que o governo russo está a fazer é um acto de publicidade: a dizer que nós também existimos, nós também fabricamos vacinas e também vamos ter vacinas", explica Jaime Nina. Quando é que o mercado poderia contar com as vacinas contra a Covid-19? O presidente russo inicialmente indicou que a vacina Sputnik V vai entrar em circulação a partir de 1 de Janeiro de 2021. "Primeiro é preciso provar que são eficazes e seguras em grandes números e isso vai demorar algum tempo. Os investigadores da vacina de Oxford presumem que provavelmente conseguirão ter a vacina em produção em grande escala a meio de Novembro, talvez princípio de Dezembro. Não se sabe se terão os ensaios de fase 3 já suficientemente robustos nessa altura para ter o licenciamento", continua o infecciologista. A vacina Sputnik V foi apresentada como permitindo atingir uma "imunidade estável", mas quais as garantias tendo em conta as incertezas sobre se quem já foi infectado uma vez fica imune ao novo coronavírus? "Houve foi pessoas que tiveram análises positivas, o que é diferente de serem reinfectadas. Até ao momento, que seja do meu conhecimento, não há nenhum caso bem confirmado de a pessoa ter tido Covid-19 duas vezes", afirma Jaime Nina, ressalvando que a epidemia dura há oito meses e pode mudar daqui a uns anos.  "De qualquer forma, quando apareceu a Covid-19, o nome que foi dado ao vírus que a provoca é SARS-coronavírus-2, o que implica que existiu um SARS-coronavírus-1 que foi o que provocou um surto em 2002-2003 no Oriente. Quando apareceu o Covid, a Coreia do Sul, o Japão, Taiwan, a China foram ver o que tinha acontecido às pessoas que tinham tido o SARS original, o SARS 1. Até agora, nenhuma delas - foi escrito - que tivesse apanhado o Covid. Claro que os números não eram grandes e isto não dá a certeza absoluta que as pessoas que tiveram o SARS 1 estão protegidas contra o SARS 2, mas é sugestivo que, de facto, aquilo deixa imunidade.  Paralelamente a isso, alguns investigadores - quer na Coreia do Sul, quer no Japão, quer em Taiwan, Hong Kong - foram ver marcadores de infecção, nomeadamente células-T anti-SARS. Verificaram que as pessoas que tinham tido o SARS ainda mantinham uma resposta imunitária extremamente potente contra o vírus original, o que sugere que, pelo menos 17 anos depois, continuavam protegidas. Claro que são vírus diferentes, se o mesmo se vai passar neste vírus ou não, não sabemos, mas se eles são diferentes, são primos direitos, portanto, o mais provável é que também sejam semelhantes nesse aspecto", conclui.   


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 August 17, 2020  9m