Falando com Ciência

Vamos comentar sobre os aspectos, muitas vezes polêmicos, do dia a dia da pesquisa que se faz pelo Brasil, nos Institutos de Pesquisa e nas Universidades.

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Lista de depositantes de patentes no Brasil revela quadro dramático da inovação no país


O Governo Federal divulgou no dia 04/10/2021 a lista dos maiores depositantes de patentes no Brasil no ano de 2020. No entanto, é conveniente primeiro olhar outros números do ano de 2020, para relativizar a informação disponível.

Primeiramente, o Brasil apresentou em 2020 o nono maior PIB do mundo, correspondente a cerca de 2% da produção mundial de riquezas. Esse número constitui uma importante referência para análises comparativas.

Simultaneamente, o Brasil foi o décimo terceiro maior produtor de artigos científicos do mundo em 2020, correspondente a 3,5% da produção mundial. Esse número pode ser considerado muito bom, por ser compatível com o tamanho da economia brasileira. O fato da produção científica nacional ser maior que a participação do país no PIB mundial reflete em parte o fato de que muitas publicações são assinadas por vários pesquisadores de países distintos, por conta das colaborações acadêmicas. Se transportarmos essa posição para a lista do PIB mundial, encontraremos a Espanha, que representa 75% do PIB brasileiro e reforça a boa produção científica nacional, a despeito da dramática redução dos investimentos em educação, ciência e pesquisa nos últimos 5 anos. Lembramos que investimentos nessas áreas são colhidos no longo prazo, de forma que colhemos hoje os resultados dos investimentos feitos entre os anos 2000 e 2015. Os resultados do encolhimento atual dos investimentos serão colhidos daqui a 10 anos.

No ano de 2020 o Brasil foi apenas o 57o país mais inovador do mundo, posição incompatível com o tamanho da economia. Trata-se de um quadro dramático, pois indica que o conhecimento científico gerado majoritariamente em instituições públicas de ensino e pesquisa não se transforma em produtos e serviços inovadores para a sociedade brasileira. Se transportarmos essa posição para a lista do PIB, encontraremos a Ucrânia, que tem PIB 15 vezes menor que o PIB brasileiro, revelando que o país realiza apenas 7% do potencial de inovação que tem.

Voltando à lista de depositantes de patentes, 75% dos depósitos feitos no Brasil em 2020 foram conduzidos por corporações estrangeiras, interessadas na defesa de seus interesses comerciais e estratégicos no país, não refletindo o esforço de desenvolvimento tecnológico nacional. Dos 25% restantes, 75% dos depósitos de patentes foram conduzidos por instituições públicas de ensino e pesquisa, o que constitui uma óbvia deformação do sistema de inovação no país. Como já discutido em vídeos anteriores do canal, depósitos de patentes não constituem indicadores legítimos de produção acadêmica nem missão de instituições públicas de ensino e pesquisa. Patentes deveriam ser depositadas em princípio por empresas inovadoras, que disponibilizam o conhecimento científico na forma de produtos e processos para a sociedade brasileira.

É muito relevante perceber que, dentre os 20 maiores depositantes de patentes no Brasil em 2020, 17 foram instituições de ensino, 1 foi a Petrobras (empresa estatal), 1 foi um professor universitário e apenas 1 foi uma empresa privada que atua no país. Dentre os 10 maiores depositantes, 9 foram universidades e 1 foi a Petrobras. Há universidades comemorando esse feito, mas não há o que comemorar nessa tragédia. Para fins de comparação, dentre os 20 maiores depositantes de patentes nos EUA não há uma única universidade, a despeito da robustez do sistema universitário americano.

Os números não mentem e mostram uma economia pouco inovadora e doente. É preciso desenvolver com urgência um plano de desenvolvimento econômico e tecnológico que privilegie o conhecimento embarcado em produtos e processos, interrompendo a trajetória de simplificação da economia nacional. E isso é trabalho urgente para essa geração, para o bem do futuro do Brasil.

Para conferir as referências, consulte a descrição do vídeo no canal do YouTube.


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 October 6, 2021  8m