Falando com Ciência

Vamos comentar sobre os aspectos, muitas vezes polêmicos, do dia a dia da pesquisa que se faz pelo Brasil, nos Institutos de Pesquisa e nas Universidades.

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Ranking de pesquisadores ADScientific é uma picaretagem ancorada na vaidade e no produtivismo


No dia 30/09/2021 circulou mais um desses rankings que pretensamente avaliam a importância relativa dos pesquisadores. Como é comum nesses casos, o ranking começou a circular nas redes sociais e as pessoas se lançaram à busca de nomes de pesquisadores e instituições, comparando-os uns aos outros. Como tenho interesse acadêmico legítimo nesse tema e como sou crítico contumaz do uso dessas ferramentas, em geral cheias de deformações, fui ver do que se tratava.

O tal ranking em verdade é uma lista de fatores H, já discutido em vídeos anteriores do canal. O fator H é uma medida relativa das citações recebidas por um autor. Assim, se o fator H é igual a 10, isso significa que ao menos dez publicações do autor avaliado mereceram ao menos 10 citações de outros pesquisadores. A inferência que se faz é que, quanto maior é o fator H, maior é a importância e produtividade do pesquisador. No entanto, o fator H está sujeito a várias deformações, sendo afetado por variáveis que nada têm a ver com a produção e qualidade do trabalho que o pesquisador faz, como a área em que o pesquisador trabalha. Dessa forma, o tal ranking apenas atualiza uma ideia velha.

Como não encontrei o meu nome na lista e como o meu fator H normalmente me põe nessas listas, fiquei ainda mais curioso sobre os critérios usados para construir o ranking. Para minha surpresa, percebi que o tal ranking foi construído apenas com pesquisadores que mantêm contas no Google Scholar vinculadas ao e-mail institucional e com perfis públicos. Como não tenho conta no Google Scholar vinculada ao meu e-mail institucional, da mesma forma que não tenho contas no Facebook, LinkedIn e ResearchFinder, não mereço mesmo ser considerado um pesquisador importante. Aliás, sou um desses dinossauros que acreditam que os sistemas computacionais e de comunicação de instituições governamentais não deveriam usar plataformas como a do Google, que faz uso desconhecido dos dados e possivelmente os vende para que instituições façam rankings de pesquisadores, por exemplo.

Fuçando um pouco a plataforma, descobri um botão que permite corrigir e inserir dados da plataforma e do ranking. Ao acionar o botão, me deparei com um conjunto de ações bastante peculiar:

  1. É necessário abrir uma conta no Google Scholar e vinculá-la ao e-mail institucional, claro, pois pesquisador importante mantém conta ativa e institucional no Google Scholar;
  2. É necessário tornar o perfil público e preencher os dados, claro, para fazer o trabalho que os organizadores do ranking deveriam fazer;
  3. É necessário garantir a veracidade dos dados, claro, porque os divulgadores do ranking não checarão os seus dados (e lembro do episódio de Camille Nous, apresentado em vídeo anterior do canal), de forma que parece legítimo questionar a consistência da base de dados;
  4. É necessário pagar US$ 30,00 (trinta dólares americanos) para inserir ou corrigir os dados !!!! Se for uma transação institucional e a lista de pesquisadores for grande, a instituição pode pedir um desconto ...

O tal ranking é um negócio picareta para tirar dinheiro de pesquisadores e instituições de pesquisa. Apenas a vaidade acadêmica e o vício nas métricas produtivistas pode explicar o aparecimento de rankings e negócios como esse. Esse ranking não deveria estar sendo divulgado ou celebrado, mas deveria estar sendo denunciado !!!! Algo muito errado está ocorrendo no mundo acadêmico, quando deformidades como essa circulam, são divulgadas e celebradas no mundo da pesquisa.

Referências:

  • https://youtu.be/watch?v=d8G5xF0BhtQ
  • https://youtu.be/watch?v=-WyY0_GhaR0
  • https://www.adscientificindex.com/add-profile-correction-form/?ref=banner


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 October 1, 2021  5m