Falando com Ciência

Vamos comentar sobre os aspectos, muitas vezes polêmicos, do dia a dia da pesquisa que se faz pelo Brasil, nos Institutos de Pesquisa e nas Universidades.

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Histórias de um Pesquisador (Ep 11) - Quando o estudante / pesquisador não fala nem pergunta ...


Quando eu dou aulas, costumo fazer muitas perguntas e procuro estimular a participação dos estudantes, pois acho muito chato passar horas a fio falando, sem ter algum tipo de feedback. Contudo, durante um curso de pós-graduação para engenheiros, ao fazer uma pergunta para um estudante, recebi como resposta desse estudante o pedido de que não fizesse mais perguntas a ele. Segundo o estudante, era direito dele não revelar para os demais colegas o que ele sabia ou deixava de saber. Achei a resposta chocante e devo ter perdido a chave uns 5 segundos, pois não estava preparado para ouvir aquela resposta. Obviamente, nunca mais fiz qualquer pergunta àquele estudante durante o curso, o que foi uma pena.

O episódio ajuda um pouco a compreender por que a participação do estudante em sala de aula ou do pesquisador em evento científico é usualmente tão baixa no Brasil. No exterior, a participação de estudantes e pesquisadores nesses eventos é normalmente muito mais significativa, chovendo perguntas durante e após as apresentações. No Brasil é comum inclusive que apenas o presidente da seção faça perguntas nos eventos científicos, para evitar o constrangimento da ausência de discussão ao final das apresentações.

De alguma forma a cultura brasileira torna mais difícil a participação das pessoas nesses eventos públicos. As razões que podem explicar esse comportamento são várias: a) a baixa autoestima e o medo de revelar aos demais algum desconhecimento ou de formular perguntas tolas; b) a competição exacerbada e o medo do julgamento por terceiros; c) a inibição causada pela autoridade de quem apresenta; d) a repressão da curiosidade dos jovens como algo ruim, com uso dos apelidos de enxerido ou de Zé Perguntinha; dentre outros motivos possíveis. Minha esposa lembra que tinha raiva de ser chamada de curiosa pelos parentes quando era pequena, por conta de suas perguntas frequentes.

O fato é que perguntar e questionar são fundamentais para o aprendizado de quem ouve e de quem fala. Por isso, participe e estimule a participação de estudantes e colegas sempre !!! Inclusive, sugiro aqui um exercício para ser praticado em todas as apresentações: durante a palestra ou aula, formule perguntas possíveis e apresente algumas para o público. Isso vai ser bom para você, para o palestrante e para o público.


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 October 18, 2021  4m