Falando com Ciência

Vamos comentar sobre os aspectos, muitas vezes polêmicos, do dia a dia da pesquisa que se faz pelo Brasil, nos Institutos de Pesquisa e nas Universidades.

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Se há várias carreiras possíveis na universidade, faz sentido que o filtro de avaliação seja único ?


Como discutido no vídeo anterior, as atividades que caracterizam uma trajetória acadêmica são múltiplas, assim como as habilidades e vocações dos indivíduos. Nesse contexto, parece inapropriado que a carreira acadêmica seja pautada por um perfil uniforme de atuação e avaliação, como usualmente feito na maior parte das universidades brasileiras. Há claramente várias carreiras ou trajetórias profissionais possíveis no mundo acadêmico e que precisam ser reconhecidas e valorizadas, como descrito a seguir.


Em primeiro lugar, há certamente uma carreira de ensino, caracterizada pela concentração no desenvolvimento, implementação e produção de estratégias e materiais com natureza didática e pedagógica. Embora pareça certo que essa atividade constitua o núcleo central das atividades conduzidas numa universidade, as atividades de ensino têm sido usualmente desprestigiadas nas universidades brasileiras, sendo comum ouvir nos corredores que os profissionais dedicados ao ensino nada produzem, o que me parece ser no mínimo muito estranho.


Há também uma carreira de pesquisa, caracterizada pelas atividades de geração de conhecimento e de laboratório. Essa é a carreira que tem sido tomada como referência e modelo de atuação acadêmica desejável e admirável no Brasil, concentrando os sistemas de avaliação em torno dela e assim contribuindo também com a atrofia da riqueza da vida acadêmica e universitária.


Há certamente uma carreira de extensão possível, que é aquela concentrada nas interações da universidade com o seu entorno e a sociedade. Embora essa atividade seja fundamental para derrubar muros, levar a universidade para as comunidades e legitimar boa parte da atividade acadêmica, ela tem sido historicamente combatida por núcleos mais conservadores, que vêm viés político e ideológico nas atividades de extensão.


Há ainda uma carreira de gestão, mais concentrada nos aspectos administrativos da vida acadêmica. Essa é certamente a atividade mais visível para o mundo externo e frequentemente disputada internamente, também por conta dos adicionais financeiros usados para estimular o recrutamento de profissionais para essas atividades.


Uma outra carreira possível é a administração acadêmica, voltada para a criação, organização e acompanhamento de cursos de graduação e pós-graduação, além dos alunos. Essa trajetória não se confunde com as atividades de ensino e gestão e é muitas vezes invisível para a própria universidade, exigindo muitas vezes o sacrifício pessoal daqueles que se dedicam a essas tarefas.


Enfim, há ainda outras carreiras possíveis, de forma que todas essas trajetórias deveriam ser formalmente consideradas, igualmente valorizadas e justamente avaliadas com filtros distintos. É importante ressaltar que essa discussão nada tem a ver com discussões sobre Planos de Cargos e Salários, que podem ser conduzidas de forma independente e que poderiam ser uniformes e equivalentes para todas as carreiras (embora baseadas em demandas e critérios de avaliação distintos). Essa discussão é muito comum nos corredores das universidades, mas precisam ser escaladas e transformadas em pautas formais de discussão. O fato é que é urgente que a interpretação sobre as trajetórias e carreiras acadêmicas mude, para contemplar a diversidade e importâncias das diferentes atividades conduzidas no seio da universidade.


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 October 29, 2021  5m